PLATERO
Platero e Eu
Descobri Platero faz muito tempo, sua ternura e poesia me cativaram de imediato...
O escritor espanhol Juan Ramón Jiménez (1881-1958) sentia-se mais à vontade com a natureza do que com os homens (algo temos em comum). Seu livro Platero y Yo, é de 1915 e conta sua relação com o burrico de nome Platero e que na verdade, “não era tão burro assim”! É uma obra de delicada poesia, retratando as belezas, as tristezas, as misérias humanas de uma forma tocante e sublime.
Abaixo coloco alguns excertos:
“Platero é pequeno, peludo, suave, tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.
Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal roçando, as florinhas róseas, azuis - celestes e amarelas... Chamo-o docemente: “Platero”, e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir .
Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, dos figos roxos, com a sua cristalina gotita de mel...
É terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando passo nele, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:
- Tem aço...
Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo. (...)
Fiz o meu Platero de feltro marrom, de um molde antigo da minha vó!
Platero brinca com Diana, a linda cadela branca que parece o quarto crescente; com a velha cabra cinzenta, com as crianças...
Diana salta, ágil e elegante, diante do burro, tocando ao de leve a campainha, e faz que lhe morde o focinho. E Platero, pondo as orelhas em ponta, como dois cornos, marra-lhe brandamente, e fá-la rolar na erva em flor.
A cabra vai ao lado de Platero, roçando-se nas suas patas, puxando, com os dentes, a ponta das espadanas da carga. Com uma cravina ou uma margarida na boca, põe-se na frente dele, toca-lhe na testa, brinca, e bale alegremente (...)
Olhos duros e brilhantes como dois escaravelhos!
Entre crianças, Platero é um brinquedo! Com que paciência sofre as suas loucuras! Como caminha devagar, parando, fingindo-se pateta, para que elas não caiam! Como as assusta, iniciando, de súbito, um trote falso!
Claras tardes do Outono (...)! Quando o vento puro de Outubro afia os seus límpidos rumores, ouve-se do vale um alvoroço de balidos, de relinchos, de risos infantis, de batidos e de campainhas...”
“Olha, Platero; hoje, o canário das crianças amanheceu morto em sua gaiola de prata.
É verdade que o coitado já estava muito velho... O último inverno, bem te lembras, ele passou silencioso, com a cabeça escondida sob as penas. E, ao começar esta primavera, quando o sol transformava em jardim a casa aberta e se abriram as melhores rosas do pátio, ele também quis engalanar a vida nova e cantou: mas sua voz era quebradiça e asmática, como a voz de uma flauta rachada.
O menino maior, que cuidava dele, ao vê-lo hirto no fundo da gaiola, apressou-se em dizer, choroso: "Pois não lhe faltou nada; nem comida nem água!"
Não, não lhe faltou nada, Platero. Morreu porque sim - diria Campoamor, outro canário velho...
Platero, haverá um paraíso dos pássaros?”
Fiz então, o meu Platero, tão macio e gentil como melhor pude imaginar, e ele, viajando comigo aqui no TAO, compartilha da poesia da vida diária de uma velejadora pelos mares deste mundão...
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