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PROJETO CERÂMICO VASALISAS

           PROJETO VASALISAS

 

 Este projeto foi desenvolvido durante o meu curso de cerâmica, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, com a professora Suzana Campozani.

Desde que comecei a ler o livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, fiquei muito impressionada com o significado e a riqueza de material psicológico das histórias.

Este livro aborda, a partir de contos infantis tradicionais e antigos, aspectos interessantes e importantes da psique humana.

Através da análise e interpretação minuciosa das histórias, a autora esclarece inúmeras questões sob uma ótica intrinsecamente feminina, na qual todos os personagens são considerados como pertencentes à psique de uma só pessoa, atuando como forças internas inerentes a cada indivíduo.

É uma visão inovadora e muito bem vinda, já que o conhecimento formal e tradicional da psicologia feminina foi construído por psiquiatras do sexo masculino, como Freud, Jung, Reich, entre outros.

Inovadora porque utiliza antigas histórias infantis que foram, se não criadas, sempre contadas por mulheres – mães, amas, avós, tias, etc.

 Chega em boa hora , num momento em que o feminismo passa por profundas transformações, quando as mulheres estão percebendo que  assumiram um modo "masculino de estar no mundo" e a procura de novos caminhos para o auto-conhecimento e realização pessoal.

Todo esse contexto encaixou-se perfeitamente na minha trajetória pessoal de busca da minha originalidade.

A história "Vasalisa, a sabida" é a que mais gosto e a que me inspirou a criar uma seqüência de bonecas, a partir, também, de outras histórias do livro.

Aproveitei, então, a oportunidade que tive, em 2001, no curso de Cerâmica do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, quando fui promovida à turma de Projetos Especiais, onde cada aluno deveria elaborar e construir um projeto cerâmico formal, para concretizar minhas idéias: aventais em tecido com bolso e bonequinha de cerâmica representando as histórias escolhidas.

"Vasalisa, a Sabida" é uma história de origem russa, mas de raízes muito antigas, desde o culto às deusas-cavalo, anteriores à cultura grega clássica, e que trata de como infundir na mulher o poder natural da intuição.

Tem uma conexão profunda com o tempo no qual a Deusa era o ícone espiritual mais forte e possuía um caráter multifacetado de Menina, Mulher, Mãe e Anciã. A Deusa abarcava todo o fenômeno do ciclo vida-morte-vida.

Por essas características, acredito que a história da Vasalisa traz a possibilidade do desdobramento em outras, enfatizando o caráter iniciático dos contos de fadas nas diversas áreas da vida, como: socialização, solidão, amor e relacionamento que são, respectivamente e em ordem, "Sapatinhos vermelhos", "Pele de foca – pele de alma" e "Mulher-esqueleto".

Escolhi esta ordem por sentir que é um sentido natural desenvolvimento da psique feminina quando na busca de seu self profundo e original: Resgate da intuição; Socialização, ou como estar no mundo; Retorno à espiritualidade profunda, ao espaço sagrado interior; e Encontro amoroso, embora todos esses processos possam ocorrer concomitantemente em uma infinita variedade de combinações.

 

RESUMO DAS HISTÓRIAS

 

"Vasalisa, a sabida"

 

Vasalisa ganha da mãe, no seu leito de morte, uma bonequinha para levar sempre no bolso do seu avental. Ela vai orientá-la em todos os momentos de necessidade e urgência. Após alguns anos, o pai casa-se novamente. Sua madrasta tem duas filhas, e as três têm muita inveja da pura beleza de Vasalisa.

Um dia, as três deixam propositalmente o fogo apagar e mandam Vasalisa à floresta escura buscar fogo novo, na casa de Baba Yaga, a velha mãe da vida-morte-vida, "Aquela que Sabe", e que é mais velha que o mundo.

Após extensa caminhada com a ajuda da boneca, Vasalisa chega à casa da Yaga e pede a ela o fogo. A velha diz que lhe dará o fogo se cumprir várias tarefas, como lavar suas roupas, cozinhar e limpar a casa. Sempre com a ajuda da boneca, Vasalisa cumpre todas as tarefas, e Baba Yaga lhe dá o fogo, em uma caveira incandescente espetada numa vara.

Nessa história, aprendemos a descobrir e a usar nosso poder pessoal, intuição e instintos profundos.

 

Vasalisa, a sabida

Avental Vasalisa, a sabida

 

Baba Yaga: Mãe do mundo – Gaia – Géia – Mãe Nyx – Pachamama.

É a mulher mais velha, Aquela que Sabe. Já viu e viveu tudo, criadora e destruidora do universo, ela sabe o tempo de viver e de deixar morrer. A sabedoria de que a morte alimenta a vida é uma das suas mais poderosas lições. Não-racional, intuitiva, trabalhar para ela e com ela ensina a ser visceral, a perceber os processos de desapego, cura, renovação em todos os sentidos.

 

Baba-Yaga

 

Avental Baba-Yaga

 

Tópicos a serem abordados:

·                  Perceber os ritmos internos e os ritmos da própria vida.

·                  Feminino selvagem x Feminino "cultural".

·                  Conviver com o "lado sombra"; auto-estima.

Saber dizer"não"e desapegar. 

 

"Sapatinhos vermelhos" (Anne Sexton)

 

Estou parada na arena

Na cidade morta

E calço os sapatos vermelhos...

Eles não são meus.

São de minha mãe.

Da mãe dela antes.

Passados de mãe para filha

como bens de família

mas escondidos

como cartas vergonhosas.

A casa e a rua às quais pertencem

estão ocultas e

Todas as mulheres, também,

 estão ocultas...   

 

Sapatinhos vermelhos, perfil 

Sapatinhos feitos à mão

Sapatinhos, a armadilha 

Sapatinhos vermelhos, avental

Esta história nos ensina a perceber nossa criatividade e originalidade própria. Fala-nos da preservação e resgate do self, ajudando a identificar as armadilhas e venenos da cultura e sociedade preestabelecida que nos fazem perder nossa vida criativa, feita à mão.

 

Tópicos a serem abordados:

·                  Perceber as armadilhas da sociedade contra a vida criativa original: comporte-se / não crie confusão / não pense demais / não chame a atenção / seja boazinha, etc.

·                  Perceber os venenos da sociedade: depressão / TPM / álcool / drogas / comida / relacionamentos destrutivos e co-dependentes.              Resgate da vida feita à mão: prestar                atenção / ver o que há para ser visto / sempre alerta / não transigir.

 

"Pele de foca – pele de alma"

 

Um homem muito solitário um dia caçou até o anoitecer, sem nada conseguir. Quando a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reluzir, ele chegou a uma enorme rocha, onde lindas mulheres dançavam nuas. Embevecido, foi se aproximando com o movimento da maré. De repente, elas começaram a vestir suas peles de focas e a deslizar graciosamente para a água.

O homem pegou então uma das peles e pediu à sua dona que se casasse com ele, prometendo que, em sete verões, devolveria a pele para libertá-la. Assim foi, e tiveram um filho. Porém, algum tempo depois, sua pele começou a rachar e seu cabelo a cair.

Chegou então o dia de partir. Seu filho, relutante, devolveu-lhe a pele, e foram juntos ao penhasco. Ela a vestiu e, agarrando o menino, soprou-lhe um alento, mergulhando com ele para as profundezas.

Passaram-se alguns dias, e o menino teve que voltar à superfícies, pois ainda não era seu tempo de ficar. Ele cresceu e se tornou tocador de tambor, cantor e inventor de histórias, sendo visto, muitas vezes, num certo rochedo, parecendo falar com uma grande foca prateada que freqüentemente se aproxima da orla.

 

A foca é um dos mais belos símbolos da alma selvagem. À semelhança da natureza instintiva das mulheres, as focas são seres que evoluíram e se adaptaram através dos séculos. Seus olhos são capazes de retratar expressões sábias, selvagens e amorosas. Vivem quase sempre em alto mar, vindo à terra somente para procriar e alimentar, sendo mães muito devotadas.

A psique e a alma das mulheres também têm seus ciclos e estações de atividade e de solidão, de participar do mundo e de voltar ao canto do mundo. É disso que nos fala essa história, do retorno ao self instintivo. 

 

Pele de foca-Pele de alma

Pele de foca-Pele de alma, avental 

Tópicos a serem abordados:

·                  Perceber os ciclos internos profundos de atividade e ócio.

                      Importância da solidão: como e quando / aprender a ser uma boa companhia para si mesmo.

 

 

 

"Mulher-esqueleto"

 

Num estranho dia de pesca, o homem jogou seus anzóis e finalmente achou que havia pescado algo grande. Muito feliz, puxou sua linha, e eis que na borda do barco surge a mulher-esqueleto. Horrorizado, rema desesperadamente pelo mar, sem perceber que ela ficou emaranhada nas linhas.

Ao chegar, larga tudo, sem ver que o anzol enganchou no seu anorak [casaco típico dos esquimós]. Corre para o seu iglu, onde entra rapidamente, ficando no escuro até seu coração se acalmar.

Quando finalmente acendeu a luz, lá estava ela, resplandecente, ao seu lado. Mais calmo, o homem já não a achou tão terrível, e começou então a desenredar seus ossos aos poucos, arrumando-os. Enfim, cansado, adormeceu. Ao dormir, uma pequena lágrima brilhou nos seus olhos. A mulher-esqueleto bebeu e foi como um rio, saciando sua enorme sede.

Deitada ao seu lado, retirou o coração do homem, aquele tambor forte, começando a cantar, até que seus ossos estivessem recobertos de carne, cabelos e olhos saudáveis e a divisão entre as pernas e todas as coisas de que as mulheres precisam também. Quando pronta, devolveu o coração ao homem, e dormiram abraçados. Acordaram, enredados da noite junto, agora de um jeito bom e duradouro.

Esta história nos fala do encontro com o outro, do surgimento do amor. Veio o povo Inuit, habitante do Pólo Norte, cujo rigoroso ambiente torna o amor e os relacionamentos algo mágico.

Aprendemos com a história que, para as uniões serem duradouras e profundas, temos que convidar a mulher-esqueleto para partilhá-la. Ela é a natureza vida-morte-vida, num de seus muitos disfarces, trazendo a visão dos ciclos, das mudanças, da intimidade, daquilo que precisa morrer... Ela é o aspecto selvático da relação e precisa ser abraçada pelos dois amantes... 

 

Mulher Esqueleto

Mulher Esqueleto, avental 

Tópicos a serem abordados:

·                  Amor próprio Þ consciência.

·                  Amor ao outro Þ morte do ego.

·                  Encarar a intimidade profunda.

·                  Usufruir a aniquilação do ego no momento amoroso; entrega.

·                  Conquista do vínculo profundo na vida diária.

 

 

 



17/10/2009
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