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DELICADEZAS SOBRE A MORTE E O MORRER II

O livro "O Palácio de Espelho" de Amitav Ghosh, como todo o bom livro, nos deixa com saudades dos personagens, a quem nos apegamos, positivamente ou não, nos envolvendo com suas histórias de vida.

Este longo livro me cativou com a sucessão das vivências dos personagens inclusos na perspectiva histórica dos países onde viviam, mostrando características e perfis de personalidade acordados aos momentos políticos e sociais e culturais em que viviam.

Como o livro "Momento em Pequim", de Lin Yutang, também me cativou quando eu era bem mais jovem, inclusive me despertando para o Taoísmo e à transcendentalidade da vida. A heroína Magnólia tem um lugar cativo no meu coração.

Atualmente, em função das vivências tão profundas com as questões da morte, uma parte em particular deste livro me fascinou pela clareza como o escritor colocou sentimentos e emoções que vaporosamente passeiam na minha alma nestes últimos meses:

"Uma coisa que não se vê até ela ir embora...as formas que as coisas têm e o jeito como as pessoas à sua volta se amoldam a essas formas. Não falo das coisas grandes, só das pequenas coisas. O que se faz ao levantar de manhã, as centenas de idéias que passam pela cabeça enquanto a gente escova os dentes:'Tenho que falar com mamãe sobre o canteiro novo'...esse tipo de coisas. Nestes últimos anos, comecei a assumir uma porção de pequenas coisas que papai e mamãe costumavam fazer na Morningside. Agora, quando acordo de manhã, essas coisas ainda me voltam do mesmo jeito: tenho de fazer isto ou aquilo, para mamãe ou para papai. Aí, me lembro, não, não tenho de fazer mais nada disso; não tem razão para fazer. E, de certa forma, é estranho, mas o que se sente nesses momentos não é exatamente tristeza, é uma espécie de decepção. E isso também é horrível, porque você diz para si mesmo: isto é o melhor que eu consigo fazer? Não: isto não basta. Eu devia chorar, todo mundo diz que é bom chorar. Mas a sensação por dentro não tem um nome fácil: não é exatamente dor nem tristeza, não na hora. Parece mais a sensação que se tem ao sentar muito pesadamente numa cadeira: a respiração sai do corpo e a pessoa se vê sem ar. É difícil entender o sentido, qualquer sentido. Você quer que a dor seja simples, direta, não quer que ela te pegue de surpresa desse jeito indireto toda manhã, quando você está levantando para fazer alguma coisa: escovar os dentes, tomar café da manhã..."

É isso aí, não há mais nada a dizer, quem já passou ou está passando por isto, talvez se sinta mais consciente...

A consciência é também, para mim, uma libertação...



18/05/2010

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